Muitas pessoas que estão no Brasil e planejam se mudar para o Japão, se perguntam como ficará seu tratamento psiquiátrico no novo país. Esse artigo pretende tirar algumas dúvidas das pessoas que estão em tratamento medicamentoso, ao mesmo tempo que traz algumas questões a serem desmistificadas sobre o tratamento psiquiátrico.
Imaginem a situação: por situações como ansiedade, depressão, bipolaridade, insônia ou outra expressão do sofrimento psíquico você iniciou um tratamento psiquiátrico no Brasil, mas já está com planos agendados para se mudar para o Japão. O médico aconselhou a continuidade da medicação psiquiátrica, mas as receitas tem validade de 3 meses e a quantidade de medicação que se pode levar na viagem é limitada. Como fazer?
Uma das coisas que precisam ficar claras é que a Psiquiatria como a conhecemos hoje é hegemônica no mundo todo, ou seja, essa forma padrão de cuidar do sofrimento psíquico através dos psicotrópicos é a regra do Brasil ao Japão. E mais, as medicações que usamos no Brasil são as mesmas no mundo todo, isso porque a indústria farmacêutica está presente em todos os países do globo, uma vez que entende que o mercado para seus produtos é todo ser humano.
A mesma medicação que se toma no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa é a mesma que se toma na Ásia, incluindo o Japão. Claro que pode haver alguma discrepância com relação às novas medicações, às vezes já aprovadas nos EUA e no Japão, e ainda não aprovadas pela Anvisa no Brasil, mas para a grande maioria dos psicotrópicos o acesso é igual.
Portanto, se você está preocupado se conseguirá dar continuidade ao uso medicamentoso que faz no Brasil, pode ficar tranquilo quanto a isso, basta trazer uma receita e um relatório médico em inglês ou japonês, que o médico do Japão dará continuidade na prescrição.
O que você deve se preocupar é com outra coisa: cada vez mais o meio científico fala sobre os prejuízos do uso prolongado das medicações psiquiátricas, principalmente países como EUA, países da Europa como Inglaterra e até mesmo o Japão. Muitas pessoas têm se unido para denunciar os danos provocados pelo tratamento de longo prazo com medicações psiquiátricas e a falta de apoio da medicina para lidar com eles.
O Japão é um país onde a medicina psiquiátrica se desenvolveu sob influência norte-americana, isso quer dizer que se privilegiou muito mais o organismo que a psiquê. A partir desse referencial, os limites do tratamento psiquiátrico estiveram traçados pelas medicações. No Japão são raros os psicólogos e muito mais os psicanalistas, você não encontrará consultórios psicológicos como encontra no Brasil, principalmente em áreas como infância e adolescência.
Outro detalhe importante: a medicina no Japão está no topo hierárquico social, isso quer dizer que numa sociedade tão rígida como a japonesa, onde essa distinção hierárquica já é forte mesmo entre as crianças, com definições de Senpai e Kouhai nas escolas, o médico é um profissional que geralmente não explica com detalhes o tratamento para o paciente e nem mesmo orienta sobre a medicação prescrita e seus possíveis efeitos.
É comum que pessoas passem no médico e ele prescreva medicação psiquiátrica sem mesmo informar do que se trata. Se você está acostumado a conversar com seu médico psiquiatra em consultas longas, uma vez que no Brasil se você tiver sorte pode encontrar médicos com uma visão mais ampliada sobre o sofrimento psíquico (embora não seja a regra), saiba que aqui isso é muito mais difícil.
Por conta disso, temos aqui alguns alertas: 1) se você não gostar do seu médico no Japão, procure outro; 2) é possível continuar com seu médico no Brasil, desde que ele atenda em telemedicina e faça relatórios de acompanhamento em inglês para um médico do Japão, assim você poderá continuar o tratamento com o médico japonês; 3) geralmente os médicos japoneses não mudam a prescrição recomendada pelos médicos brasileiros; 4) todo tratamento psiquiátrico deve ter data para acabar, uma vez que o uso prolongaoa das medicações é muito tóxico; 5) se você perceber piora nos quadros iniciais de sofrimento, pode ser que seja a medicação produzindo seu efeito de toxidade no corpo; 6) nunca pare de usar medicações psiquiátricas de forma abrupta, é preciso fazer um desmame gradual; 7) nunca faça um tratamento em Saúde Mental somente com medicação, pois os psicotrópicos não atuam na causa do sofrimento, apenas aliviam sintomas por tempo determinado.